sexta-feira, 16 de novembro de 2012

O Estranho


 

Nos idos de 1963 morando na cidade de Porto Alegre ressem chegados ao Brasil eu com onze anos, a minha irmã com cinco fomos surpreendidos num belo dia com a chegada de um estranho trazido por nosso saudoso pai. Meu pai ficou inicialmente fascinado com este encantador personagem, e em seguida o convidou a viver com nossa família. O estranho aceitou e desde então tem estado conosco. Enquanto crescíamos, nunca perguntamos sobre o seu lugar em nossa família. Nas nossas mentes jovens ocupava um lugar de destaque. Meus pais eram instrutores secundários. Minha mãe nos ensinou o que era bom e o que era ruim, e meu pai nos ensinou a obedecer e a ter disciplina. Mas o estranho era nosso narrador. Mantinha-nos enfeitiçados por horas com aventuras, mistérios e comédias.
Ele sempre tinha respostas para qualquer coisa que quiséssemos saber de política, história ou ciência. Conhecia tudo do passado do presente e até podia predizer o futuro. Levou a nossa família ao primeiro jogo de futebol. Fazia rir e chorar. O estranho nunca parava de falar, mas o meu pai não se importava. As vezes a minha mãe se levantava calada enquanto o resto da família ficava escutando o que tinha a dizer; somente ela ia para a cozinha para ter paz e tranquilidade. (Agora me pergunto se ela teria desejado que o estranho fosse embora). Meu pai dirigia nosso lar com  convicções e princípios morais dos quais nunca abriu mão, mas o estranho nunca se sentiu obrigado a honrá-las.
As blasfêmias os palavrões, termos pejorativos não eram permitidos em nossa casa; nem por nós nem por nossos amigos ou qualquer pessoa que nos visitasse. Entretanto o nosso novo visitante, usava sem problemas sua linguagem que as vezes queimava meus ouvidos fazendo o meu pai se retorcer na poltrona e minha mãe ruborizar. Meu pai nunca nos deu permissão para tomar álcool, mas o estranho nos animava a faze-lo regularmente.
Fez com que o cigarro parecesse fresco e inofensivo, e que charutos e  cachimbos fossem símbolos de modismo.
Falava livremente (talvez demasiado) sobre sexo. Seus comentários eram às vezes evidentes, vezes sugestivos, e geralmente vergonhosos. Agora sei que muitos conceitos foram influenciados fortemente durante a minha adolescência pelo estranho. Repetidas vezes o criticaram, mas ele nunca fez caso aos valores de meus pais. Mesmo assim ele permaneceu em nosso lar.
Passaram-se praticamente 50 anos desde que este estranho veio para a nossa casa. Desde então mudou muito , já não é tão fascinante como era no  princípio. No entanto, se você pudesse entrar na casa dos meus pais, ainda o encontraria sentado no seu canto, espe-rando que alguém quisesse escutar suas conversas ou dedicar seu tempo livre a fazer-lhe companhia.
Seu nome:  

                        TELEVISOR

Cuidado; o seu irmão mais novo e seu filho ( computador e celular respectivamente) estão por ai a sua espreita.

Texto adaptado de autor desconhecido publicado  em vários blogs e sites da Internet


             

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